terça-feira, 23 de junho de 2009

Asas Perdidas, Cruz e Sousa

Afora, pelo azul indefinido e largo,

Passam asas sutis, pelo éter, longe, afora,

Como que a demandar outra mais doce aurora

Que a desta vida atroz, toda veneno amargo.

Não as asas assim, bem longe, pela curva,

No vago, na amplidão, perdidas pelos ares

Até virem caindo os véus crepusculares,

Toda a anústia do acaso, emocional e turva.


E diante dessa dor das tardes que esmaecem

As asas, pelo espaço, em vôos desgarrados

Como a oração final dos tristes naufragados,

Longinquamente, além, tênues desaparecem

Cai então de uma vez a sombra dos segredos.

E na serena paz das noites adormidas,

Entre o fundo chorar dos calmos arvoredos,

Ninguém verá jamais essas asas perdidas.


E as asas o que são no firmamento errantes,

Perdidas pelos tempos, esparsas pelas eras

Senão os sonhos vãos, mundos alucinantes

Cheios do resplendor das flóreas primaveras?!


Por isso, eu quando o

Azul repleto de asas vejo

Muito alto, céu acima, os páramos rasgando,

Toda a minh'alma oscila e treme num desejo

Em busca das regiões da dúvida, chorando!